domingo, 21 de dezembro de 2008

pondo-se velhos

Havia sido um só o dia em que aconteceu tudo por completo, inteiro, intenso. Um só que estiveram ali presentes de alma, coração, pés, mãos, olhos, tudo. E foi num bar, à noite, numa sexta-feira. Ela saía com amigos, ele era amigo dos amigos, enfim, coisa comum essa, cotidiana. Foi disso, dessa situação mais clichê de todas que a vida inteira pareceu acontecer numa só noite, naquela noite. Na verdade não a vida inteira, mas o motivo de uma vida inteira certamente. Parecia no bar não haver mais cadeiras, nem copos, cervejas, cigarros, luzes e nem nada que não fosse deles. O bar era deles e pra eles (achavam). Depois tudo era o apartamento dele e o apartamento dele só parede branca, poucos móveis, posteres rasgados. Era só isso e eles. A geladeira era vazia. O quarto era cheio (deles).
Ele está hoje num lugar, ela noutro bem longe. Vezes ou outras, bem raras, deixam-se um ao outro um e-mail, sem palavras próprias, uma letra de música, uma citação, uma poesia, coisas assim. Isso não está como deveria ser, nem como ambos querem que seja. O tempo passa, fato, vão ficando velhos. O amor não vai mais ser reflexo do que antes fora, não. Hão de marcar outra noite, cigarros, vinhos, sentados-largados no chão da sala de um dos dois ao som de Mercedes Sosa. Aposto nisso. Apostem.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

de convites e futuro

- Pára de chorar?!
- Não dá.
- Tenta.
- Não consigo, já tentei antes.
- Ta, então toma um café comigo?
- Ta.
- O meu é expresso e o seu?
- Também, mas sem açúcar.
- Já-já chega.
- Você não sente vontade de saber por que chorei?
- Não, você já parou, assim ta bom. Quem é você?
- Não sei, não sei na maior parte do tempo. Sei só que gosto daqui, gosto de clichês, gosto de café, gosto quando faz calor assim como hoje e chove chuva fininha, quando meu cabelo amanhece assim enroladinho, não pego ônibus e ando a pé, uso vestido antigo, combino coisas para o fim de semana, paro de ler um livro que era bom e começo outro melhor que vou parar também, quando passo o dia inteiro estudando, depois durmo de cansada na frente da tv vendo uma comédia romântica, quando conto isso pra alguém, ininterruptamente.
- Eu gosto de complexidade, quero ser diretor de cinema, vou escrever um roteiro sobre hoje, sobre você, sobre tudo que vem doravante, odeio quem lê resumos wikipedianos, gosto da cidade grande, odeio clichês e vou te ensinar a odiá-los, gosto de macarrão de domingo, vamos dançar rockabilly comigo um dia desses?, gosto de cabelos enroladinhos, gosto de você. Como você se chama?
- Não importa agora.
- Vai importar depois? Quero saber.
- Não vai importar nunca. Um dia te conto.
- Ta.
- Ta. Vamos?
- Pra onde?
- Você é quem sabe.
- Ta, vamos, então. Juntos.

domingo, 27 de julho de 2008

Quero mudar de cidade, sair de casa, ter minha vida, ter alguém. Casinha simples, nada de sobrado, nem piscina, nem banheira. Quero sim um quintal grande, pra poder tomar chuva quando quiser ou banho de mangueira. Terei um cão, com um nome de algum personagem dos desenhos animados que eu via na infância. Cd's, discos, vitrola, estantes cheias. De livros inclusive, muitos, infinitos, que sei que não lerei sequer metade, mas vou ficar feliz de tê-los lá, de vê-los sempre e poder me sentir completa e cercada de palavras. Sofás antigos e, entretanto, confortáveis. Sempre amigos nos sofás, sempre. Sempre. Na geladeira cerveja e chá gelado com limão nunca faltarão. Uma taça bem grande e colorida de balas. Uma coleção de havaianas que vão estar sempre espalhadas pela casa, embaixo na cama, do sofá. Algum cômodo com uma parede verde e algum outro com uma roxa. Móveis de madeira. Um violão porque eu vou continuar com a promessa de um dia aprender tocar e também porque sempre terá alguém pra tocar. Até quando pensar que não quero gente em casa terá gente. Algumas pessoas terão a chave, virão quando quiserem e quando não quiserem também. Vai ter pipoca de panela, caramelada. Vou separar uns dias no carnaval pra chamar os chegados, afastar os móveis e dançar The Smiths na sala. Sandy & Junior também, porque não podemos esquecer de não crescer.
Quero minha vida de volta, tô vendo ela, bem longe. É muito ruim. Também não consigo saber se ela vai demorar pra voltar, mas me disseram que ela sempre volta, nunca demora. Ano que vem terá carnaval. Todo ano terá. Alguns melhores que o de 2008 virão, mais bebidas e menos amores efêmeros. Talvez já terei um ou uns amores, eles não precisam começar exatamente no carnaval. Ele deve estar lá na Ásia, Oceania... Um dia vem pra cá. É, e pode estar aqui também. Minha amiga dizia que sempre acreditou que só existisse um amor, mas que nunca havia se enganado tanto. Dizia que não era assim não, que há tantos amores. Um no sul, um na Suiça, um em São Paulo, um na Espanha, eles estão por aí. Eu dizia que tinha uns por aqui, uns tão perto dos outros. Tem épocas que um me dói mais que os outros, mas às vezes depois se torna o que menos dói. A mesma amiga me repetia "Todo amor só é bem grande se for triste, deixa doer". É, eu deixo. Até choro, sempre que me dá vontade não me poupo. Às vezes até me forço ao choro, leio coisa antiga, vejo foto. Vasculho vazios pra não perder quem já foi um dia, um mês, uma vida. A gente quer carregar todos até o último instante, tem medo de perder pelo meio do caminho até mesmo o que dói. Até mesmo e até mais o que dói. Essas são nossas certezas na vida, eu acho. A vida sempre tem razão, e a gente também. Eu sei lá.
Vou lá, buscar minha vida de volta. Isso é muito urgente agora. Exatamente agora. Exatamente urgente.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

é só olhar pro chão...

Foi culpa da lucidez, soube bem disso quando sentiu não conseguir sentir. Tudo culpa dela e sempre culpa dela. Essa tal maldita lucidez que a fez sentir na pele, no peito, no gosto da própria saliva, na aspereza das mãos, enfim, em tudo, o peso incomensurável da vida que vivia. Não porque desejava sentir esse peso, o qual sempre fingiu não existir, mas porque cedo ou tarde haveria de senti-lo. Sentir a lucidez trazer o tal peso como se estivesse rasgando a pele, sabe. Chegar com força, chegar com tudo. E a hora havia chegado. A hora chega, sempre chega. Se era cedo ou tarde não se sabe e nem vem ao caso. Chegou, pô! E isso bastava! Mas não foi natural, e muito menos rápido. Aconteceu com violência. Aconteceu lentamente, pra marcar mais. Com freqüência, parar doer mais. Inesperadamente, para desiludir mais. Nunca imaginou que chegar à lucidez doeria tanto. Enxergou tudo como era, e isso doeu. Mortificou! É colega, ser lúcido não tá com nada, pensou, com tom sarcástico por incrível que pareça. Pegou o drink. Virou num gole só. Deitou. Chega por hoje, repetiu para si mesma. Mas quando acordasse, pode apostar, seria tudo isso de novo. Se acordou não sei, melhor tivesse sido que não. Mas não, não sei do resto.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

do embotamento

Estava em paz.
Estava.
Havia conseguido alcançar o conformismo.
Tudo bem a falta dela, deles.
A linha que separava essa pseudo-cura da dor era tênue, tanto quanto o 'mizinho' de uma craviola.
Pois bem, e por andar o mundo camonianamente desconcertado, fez-se o contato.
Não por vontade (apesar de haver muito dela vivendo, sobrevivendo nisso tudo), nem intencionalmente, nem ocasionalmente.
Houve.
E sabe-se lá como.
Daí foi o esquecimento encenado em vão e o esforço e o fingimento e o que mais pudesse.
A ausência agora haveria de consumi-lo.
E consumiu.
Sumiu.

terça-feira, 15 de julho de 2008

there is no past


" Com seus mesmos tristes, velhos fatos,
Que num álbum de retratos
Eu teimo em colecionar"


Acordou (metaforicamente, pois fisicamente já o estava), enxugou tudo o que pudesse, lágrimas, suor, saliva... Ter memória era o suficiente pra tirar o equilíbrio que haveria de restar. Lembrava, lembrava, lembrava. Lembrava tanto que parecia até que ainda vivia aquilo tudo. Nessas horas não há falta de músicas, frases, livros, poemas, quotations para se lembrar e claro, se torturar. Aí parou numa frase, "Atiramos o passado ao abismo, mas não nos inclinamos para ver se está bem morto". Cale-se, Shakespeare, pensou. Passado não morre, não mesmo. O passado já está errado no nome, passado nunca passa, ficaria nela mais presente que o próprio presente. Faria tudo normalmente dali pra frente. E fez. Acordou, dormiu, saiu, comeu, riu (vezes demais), chorou (vezes poucas, mas mais marcantes que os risos), leu, escovou os dentes, fotografou coisas nada-a-ver, falou ao telefone. Não morreria fisicamente após tudo, sabia disso muito bem. Aliás, nem sentimentalmente, nem espiritualmente, nem de nenhuma forma que se pudesse considerar metafísica. Acontece é que o acúmulo de perdas é também o acúmulo de amargo, ceticismo, resistência. E isso é um certo tipo de morte, que nome não tem. Tomar café de madrugada tornar-se-ia digno de gastrite, assim como tomar whiskey no carnaval ou cerveja na Avenida Paulista. Qualquer show de rock traria à memória a música que ganhou de presente ("por um instante da sua vida você se deixou levar"), qualquer ligação com mais de cinco minutos de duração incomodaria. Escrever sobre saudade ou ler sobre ela ou lembrar dela ou tudo isso junto doeria ao ponto de ser digno um final ao maior e mais clássico estilo Goethe. Mas não haveria de ser (assim esperava).

quarta-feira, 9 de julho de 2008

"O deserto não é aquilo que vulgarmente se pensa, deserto é tudo quanto esteja ausente dos homens, ainda que não devamos esquecer que não é raro encontrar desertos e securas mortais em meio de multidões."

José Saramago - O Evangelho Segundo Jesus Cristo

terça-feira, 20 de maio de 2008

i took ya places round the world

Saudade do futuro. O futuro que costumava ser tão mais vivível. Saudade, mais específica, do futuro do pretérito. Fariam, conheceriam, brigariam, chorariam, morreriam de rir, de amor, de torpor, entornariam, mas levantariam também, dormiriam, mas depois acordariam... Só em 'iam' acreditavam, mas não 'eram'. Não fizeram, e virou pretérito imperfeito. E tudo virou imperfeito dali em diante.
Tão trágico, tão óbvio, agora são íntimos desconhecidos. Sabem tanto um do outro, dos detalhes mais sórdidos aos mais nobres, um sabe o que o outro diria em tal-situação e o outro sabe o que o um faria em outra-situação. Mas não se conhecem. Não sabem mais se olhar, nem falar, nem agir, nem mentir, nem nada, nem tudo.
Ela pensa em todas as clicherias pensáveis, em dias de frio, moletom, coberta, sofá, meias, filme antigo, abraço. Ele pensa tanto nos 'serás?', será que ainda vale?, será que ainda quero?, será que ainda é como sempre era?, será que acabará de novo?, será?, ou não será?.
E tudo que poderia voltar a ser perde-se entre um ou outro 'será?'. Perde-se nos dilemas. Perde-se nas suposições.
Tanto querem, tanto esperam, fantasiam. Sentem falta, fato. Mas não se permitem. Evitam-se, escondem-se. Enganam-se!
Enganam-se e sabem, hora ou outra vai tocar aquela música-lá há tempos não escutada, vão cair naquele e-mail-lá não apagado, na foto-lá tão (ou nem tão) bem escondida, no cd-lá ganhado há não-se-sabe-quanto-tempo atrás. Sem sequer terem que se ver, se trombarão, sabem. Na lembrança por acaso desengavetada da memória se trombarão. Ou talvez ao olharem o copo de cerveja e pensarem que era assim que ele(a) gostava da espuma. Se trombarão nos bares que forem ao pensarem em quantas vezes já foram juntos, nos boliches, nos cinemas, nas ruas das tais baladas que iam, nas marcas de cigarro, nos números dos lanches do mc donald's, nos amigos em comum, no jeito que ela virava o pé ao não saber ainda usar salto alto e caía na risada na sequência naquela calçada daquela-esquina que ele sabe que passará de novo, no jeito que ele ria e andava desengonçado quando ficava bêbado no boteco que ela sabe que irá de novo. Talvez não em pessoa, mas se trombarão uma hora dessas (ou muitas horas dessas). Não existiram tanto quanto deveriam ou queriam existir. Mas existiram. Existiram o suficiente pra sentirem essa coisa estranha e sem definições que é a saudade. Agora também existem. Separados.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

"...está na fantasia dos infelizes" (Chico Buarque)

Digo que não temo. Minto. Temo e sinto. Sinto aperto, entende? Aperto pelo vazio que sei, se fará sempre presente. Amores outros virão, sem dúvidas, sempre vem, tem que vir, faz parte do ciclo. Mas nada nunca será de tudo igual. Tudo sempre será de nada igual.
Burrice é crer que outro seria como o primeiro-verdadeiro, como aquele que te molda mais do que entenda e compreenda o porquê. Esse tal primeiro-verdadeiro é o que em tudo é dilacerante. É na saudade, no querer, no ter e no não ter, no ser, no tentar ser, no fingir ser e, nesse fingir, mostrar mais do seu real e intrínseco do que mostraria no seu suposto ser-você-mesmo. As esperas são dilacerantes, as despedidas, os reencontros, a intensidade, a eternidade em que se crê existir, o temer de que o fim exista também... Tudo, tudo. Tudo nos dilacera.
E fica na garganta, preso, em nó, o que se pensa que se fosse dito, mudaria algo.
Diria Bilac, "Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava, / O que a boca não diz, o que a mão não escreve?"
Diria C. F. Abreu, "Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio?"
Eu digo, "Volta, escuta, fica, não vá mais!"

sábado, 12 de abril de 2008

oito-sem-fim

Penso que queria conseguir escrever de forma automática sobre isso tudo, de forma que fosse simples, rápida, sem muito ter que pensar e buscar palavras. Mas não, não dá. Não sei se sei bem de onde mesmo vem essa falta das palavras, se sei o porquê delas me fugirem, se é por ser tão acima de tudo-todos que me faltam suntuosos vocábulos ou se por ser tanto em mim e pra mim que me silencia. "O silêncio é a melhor forma de se expressar quando a sensação que experimentamos excede a medida comum de sua sensibilidade". E nesse caso o silêncio seria como o ápice da expressão, do transbordar de sentimentos, sensações, sentidos (os cinco desde sempre tão bem conhecidos e até outros mais que sabemos bem quais ou saberemos, espero). Há tanto que quero contar de mim e de tudo mais intrínseco aqui e há muito mais que quero saber, perguntar, conhecer, descobrir, redescobrir, experimentar e continuar experimentando sem um fim próximo ou, melhor ainda, sem fim nenhum. Vejo a janela abrindo uma pequena fresta e se preparando parar pintar novos quadros que sei, se estigmatizarão. E tem sido tão natural que já se tornou inquebrantável. Já não sei como me enxergar sem as madrugadas a fio de ditos tão visionários, sem os escritos que acho perdidos pelos meus cadernos e livros me lembrando do quão necessária sou nesse mundo aí (que ainda conheço tão pouco ou talvez muito, mas menos do que quero conhecer). Sei lá eu como seria não mais achar papéis perdidos com poesias e desenhos que tão-bem e tão-só-nós sabemos o que significam. Sei menos ainda como seria abrir a carteira e não ver aqueles dois balões ligados pelo menos fio, que se moldam um ao outro e que, antes de toda essa simbologia, era só um fio meu de cabelo. E de forma alguma saberia não ter entraves filosóficos sobre livros, idéias, ideais, planos, projetos (em conjunto, muitos deles) e preferências que acabam sempre tangendo em algum ponto ou em todos muitas vezes. Quero jogar pingue-pongue muitas outras vezes sem me preocupar com a pontuação, ouvindo Elis Regina e falando de Roberto Piva e a piedade. Vamos continuar desenhando e acreditando no "oito deitado". É assim que quero e enxergo tudo, entende?

terça-feira, 25 de março de 2008

visions come in a sick room bed

Diriam ao ver, sem sombra de dúvidas, "só uma janela!". Só? Só? COMO ASSIM SÓ?
Jamais! Diria eu, sim, que é uma janela só. Mas só uma janela, jamais! Mas ela não é só, aliás, não costumava ser. Está só, sabe-se lá desde quando pra cá. Era a janela das visões. As boas visões, as ruins, as confortantes, as juvenis, as dilacerantes, as vazias, as repletas. Parava nela em dias bons, lembro-me. Lá pelas tantas da madrugada, era frio ou calor, não sei, e olhava por olhar. Aquele azul-roxo do céu da manhã chegando. Um café requentado e com gosto de microondas. Era de uma melancolia sem definições, mas boa.
De tudo que me acelerava o peito já vi dessa janela. Dias de ânsia por alguém, arrumada, olhando por ela de tantos em tantos segundos e esperando com aquela típica agonia adolescente. E a cena do carro chegar, parar e alguém dali descer com a mesma ansiedade (prefiro acreditar assim) e me chamar. Era como céu tudo isso. Dela via também o carro ir-se, sabendo que logo, muito logo, muito logo mesmo, quase no instante seguinte, voltaria. No dia seguinte, muito provavelmente.
Sentava nela, com o telefone ao ouvido por 2, 3, 4, 5 horas com o mesmo alguém, naquele papo repetitivo que era sempre tão novo, tão necessário. E ficava olhando tudo acontecer, de lá da janela, ao som das palavras quaisquer que eu tanto precisava (e ainda preciso, mas agora sem tê-las) diariamente.
Em outras épocas recentes cronologicamente e distantes psicologicamente (com esforço inarrável o alcance da distância psicológica e sentimental, com certeza) via outra cena. Um carnaval talvez, gente querida, bebibas incensuradas, wiskey quem sabe, outro carro, outro alguém, outras horas no telefone, outras palavras necessárias, tudo outro e, mesmo assim, tudo tão-bom-quanto. E tudo dessa janela, sempre dela. De outra não poderia ser, nem deveria ser.
Hoje ela é como um quadro. Fica ali para que se olhe e lembre das cenas tão bem pintadas mas, há tanto tempo atrás. A janela está vazia de cenas, boas ou ruins. A janela está vazia. A janela está vazia. A JANELA ESTÁ VAZIA! É uma janela só agora. O que fazer? Pois eu agora, só sei fechá-la e ir dormir. Tchau, boa noite, vou dormir! [janela fechada]

sábado, 22 de março de 2008

my hope, the destroyer

Queria que viesse tudo de uma vez. Vomitar as palavras. Ouvi que escrever é como vomitar, tem que vir sem pensar. Mas antes de todo o vômito tem a ânsia. Me desagrada a ânsia que precede o vômito, os muitos minutos estáticos entre eu e o papel, sem saber fazer aquela merda deixar de ser branca e vazia. Nem que seja pra encher de coisas sobre um nada qualquer, uma tristeza ou solidão qualquer, qualquer que seja esse qualquer... Quero vomitar tudo de uma vez, e não mais compassado, em pequenas porções. Livrar-me-ia de tudo que trava o riso, impede a noite bem dormida, rouba o pensamento de amor antes de dormir.
Sentimentos que, por mais infinitos e eternos que são, são mais confortáveis quando adormecidos. Lá, dormindo, sem cutucar ninguém, a gente finge que não existe mais, que não incomoda mais. Mas uma simples música (nada simples), pode acordar tudo. É o tipo de um segundo de descuido que lhe custará uma vida toda, uma fase toda, qualquer 'toda' que seja.
Mas como evitar esse momento? Não há como. Não saberia como ser diferente. Sou assim e isso é intrínseco em mim. Aquela coisa que tá na essência que te rege, tá no seu gene. Não o gene, aquele lá de DNA, sabe?! O gene que transcreve sua alma, o mais indelével de você.
E tudo que eu ouço, por mais passional e confortante que pareça ser (e é) no momento que é dito, sei que será o martírio conseguinte. São as palavras de amor não pensadas (palavras de amor deveriam ser pensadas?) que quando a gente lembra no dia depois de amanhã são como violência. Violentas porque a gente sabe que morreram no momento seguinte do que foram ditas. Morreram sim, pelo menos pra quem as disse. Quem ouve guarda (quase sempre pra sempre) e lembra. Todo dia, todo minuto, todo segundo... Sempre que pode, que quer, que não quer, que deve, que não deve. Sempre! E quando digo sempre, é sempre! E eu lembro a toda hora. Me cutuca, abre ferida nova, abre ferida já fechada, se estigmatiza. E tem como ser diferente?

quarta-feira, 12 de março de 2008

assim sou, assim fico

(...)
Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) ­
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

(...)

[Álvaro de Campos - Lisbon Revisted]





Bem por aí.

[Lê pra mim de novo? Eu gosto!]

quarta-feira, 5 de março de 2008

Eu, salgueiro. Ele, primavera.

Madrugada se foi, quase toda em claro. Depois daquela ligação, que você trocaria o mundo pra não ter tido. Ouviu as palavras e as conclusões que você trocaria o mundo pra não ter sabido. Houve choro sim! Não achava pecado dizer, muito menos vergonhoso assumir. Era um ser humano e ao contrário de quem a causou tudo isso, ela tinha orgulho ao dizer que sente mesmo, tem todos os sentimentos contidos nela, os mais intensos possíveis, os mais dilacerantes, mais indeléveis. E isso sim é digno de ser dito. Não enchia o peito para dizer que a vida é cinza e solitária, não é algo de que se orgulharia ao dizer. Prefere que saibam que vê cores, brilhos, nuances. Mas apesar dos pesares, o último dia não trouxe as tais cores. Não o cinza também, mas trouxe angústia. Era sem cor alguma.
Acordou e não tinha cabeça para a aula. Adiou pra assisti-la à tarde. Não teve cabeça também. Se arrumou e se trocou pra ir a um tal encontro. O encontro que menos quis ter na sua vida, o qual preferia não comparecer, aquele que foi marcado pra ser dito o óbvio e o já esperado. Por sorte ou não, não foi concretizado. Se irritou. Sentiu-se imbecil ali, esperando por alguém que não viria, pra ouvir algo que não queria. Foi embora, então. Caminhou pela Avenida Paulista, pra espairecer talvez. Comprou uma trufa pra comer mais tarde, pois sabia que a tristeza viria e iria de fato precisar de algo que lhe liberasse cerotonina no corpo. Chegou o tal ônibus que a levaria embora. Entrou. Sentou. Olhava o ônibus passar letamente, ponto por ponto, naquele trânsito paulistano digno de ódio. Um homem parado no carro ao lado a olhava, profundamente, sem desgrudar os olhos. Talvez quisesse entender o motivo das lágrimas de uma guria que tinha todas as feições feitas para o riso. Ela olhava as pessoas na rua e todas com uma cara tão sem tempero, sem expressões. Ficou pensando se tinham tristezas dilacerantes contidas em si, pois pareciam ser tão sem graça. Pessoas que não sentem. Em todo o trajeto só um casal, que parecia realmente feliz. Ela mestiça, ele com um toque afro. Adorava isso no Brasil, essa miscigenação. Ficou observando os dois se abraçarem e rirem juntos. Não sentiu felicidade, mas sim tristeza, por não estar numa situação de mesmo gozo. Mais à frente desciam dois homens de um taxi. Estavam conversando, com caras agradáveis. Pensou que os dois provavelmente iriam sentar em algum barzinho, tomar cerveja e dar risada a noite toda. Sentiu tristeza também. Queria estar na mesma situação. E o ônibus andava e observava cada situação, cada encontro, cada desencontro, cada carro, cada prédio, cada luz. Os prédios, esses a irritaram. Todos se impondo, grandes, enormes. Cheios de luzes. Mas eram prédios tão cinzas, tão pretos, marrons... Prédios escuros, apesar das luzes. Era uma iluminação estática, sem movimento, sem poesia. Prédios desagradáveis. Agradeceu quando saiu da Paulista. Próximo ponto, Rua Doutor Arnaldo. Parada ao lado de uma loja de flores. Pensou que queria receber flores. E logo. Fosse por um amor, fosse pela morte. Mas sabia que tão logo não receberia. Isso a irritava. Via as pessoas andando e se agoniava mais do que já estava, com os homens de terno nesse calor tropical, as mulheres de salto pelas calçadas esburacadas. Isso também era irritante pra ela. Essa malditas pessoas que dormiam no ônibus, que silêncio sepulcral. Isso irritava também. Queria o fim, queria não estar ali, não sentir esse aperto, essa agonia. E como de hábito, pensava nas obrigações do dia seguinte, esvaziadas de sentido. As quais nunca parou pra se perguntar "Por que mesmo estou fazendo isso?", só aceitava e fazia.
Queria sentido. Não pra tudo, mas pra pelo menos uma coisa na sua vida. Nada parecia tê-lo, nada mesmo. Isso era irritante. Isso tem a devorado. Por dentro, por fora. Ela não acha a saída. Só grita em silêncio por dentro "Pare! Pare! Chega! Fim!", mas o fim não chega...

domingo, 2 de março de 2008

listening to everything

E te imagino o tempo todo. Vejo seu rosto em mil outros. E te procuro em todo lugar. Ouço seu nome ecoando na minha cabeça a todo tempo. Lembro seu toque de forma que até senti-lo eu consigo.
Queria que dormisse comigo aos fins de semana, eu acordasse mais cedo pra te ver dormir e esperar você abrir os olhos. E quando você acordasse ia estar te olhando, com os dedos perdidos nos seus cabelos e te lembrando o quão bom é te ver dormindo, o quão bom é te ter por perto. Queria fazer mais parte da sua vida. Saber mais dela. Estar mais nela. Mudar mais ela.
Você me faz pensar em coisas bobas, me faz querer te contar minha vida inteira, me faz querer aprender a cozinhar a sobremesa que você mais gosta, me faz querer te ver sorrindo, me faz querer ser sua e só. E só!
Mas quando paro de vagar entre tudo o que eu imagino com você, eu paro e penso que eu ainda não sei o que fazer com a falta que você me faz.
Se eu ao menos me livrasse do silêncio e do equilíbrio que me dominam, talvez eu pudesse gritar no ouvido do meu orgulho que por mais que tanta coisa me impeça de te falar tudo isso pessoalmente, ecoa em mim todos os sonhos que um dia eu sonhei com alguém... e esse alguém não poderia ser outro se não você!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

anathema's effect on your mind - part II

Ninguém se interessará, muito menos vai querer saber, mas vou contar uma historinha tola qualquer. De uma guria que insiste em nunca me surpreender. Seu nome na verdade não importa, pode ser Luiza, Clara, Julia ou até mesmo Natasha [e quando encarna Natasha, tem todos os aspectos daquela mesma Natasha ao estilo Capital Inicial]. Nunca é sempre a mesma, mas é sempre tão previsível. Entende?! Não, né. Eu sei. Eu também não. Ela também não.
O fato é que ela parou um dia desses, já que nunca tem nada pra fazer, e fez seus retrospectos à infância, comparando 'how misearable she was' e 'how misearable she is now'.
Começou pelo começo seu momento nostálgico. [Penso que o começo nem sempre precisa ser o primeiro a ser contado nas histórias. O estilo Lynchiano de cenas confusas e misturadas faz as histórias tolas parecerem bem mais interessantes. Mas essa guria insiste tanto em ser não-interessante, que ignorou Lynch nesse momento.] Bom, voltando ao começo, ela pôs-se a pensar que tudo começou errado já. "Taquepariu, nem sequer fui uma criança endiabrada!", pensou. Cara, quer algo mais desinteressante que ser uma criança obediente e educada? Pãts, não existe mesmo! Isso daria um belo de um 'Prefácio desinteressantíssimo', e longe do estilo Mario de Andrade, of course. Não brincava de bonecas por mais de meia hora, achava um saco. Jogava videogame, mas não necessariamente por gostar. Acho que nem gostava na verdade. Na escola deveria ter no máximo 2 amigos(as). Só tirava 10. Mamãe a vestia mal. Era gorda. Jogava bola com os meninos da rua. Gostava de praia. Incrível pensar nisso, pois hoje ela insiste em dizer que odeia praia. [Se bem que alguns fatos semi-atuais, que não merecem vir à tona nessa história e que a guria fez questão de não incluir nos seus retrospectos, justifica o ódio à praia.] Quando pivetinha, sentava com o pai na areia da praia e cavava até caber seu corpo inteiro dentro do buraco, achava isso tão divertido. Hoje se afunda também, mas não mais em buracos à beira da praia, e sim em vazios sem fim. E hoje em dia evita ao máximo ficar perto do pai, pra evitar qualquer assunto que seja. Sabe que vai se irritar fácil e nunca gostou de mostrar sua inquietação pra ninguém. Ah, tem essa também. A guria parou pra pensar de que valeu todo seu equilíbrio comportamental até hoje. De quê? Não valeu de nada! Mas também, acha que caso se pusesse à falar sempre tudo que pensa-sente-quer tudo seria bem pior. Até os 12 ouviu Sandy & Junior e cantava sem sequer prestar atenção na letra "eu quero mais, mais que alegria e o tempo todo sorrir". Hoje não canta, mas ouve Anathema de olhos fechados e sente o peito diminuir quando ouve frases como "have I really lost control" ou "how much longer till I hit the ground". 5 e pouquinho da manhã, ônibus entupido, peso nas costas [não só da mochila, claro] e pensa "queria o colégio de padres de novo". Nunca foi auto-piedosa, mas aposto que ao contar seus retrospectos vão pensar que no mínimo ela era, e muito! Outras partes de seus retrospectos prefiro censurar daqui, outras ela sequer parou pra pensar ou incluiu nisso tudo. Paro por aqui a história dessa sem-graça-alguma. Porém, não sem antes dizer que todo esse martírio se cessou. Incrível não?! Encontrou algo [na verdade, alguém] que fez tudo isso parecer irrisório. Na verdade não parecer irrisório, mas agora acha mais interessante pensar nesse algo [na verdade, alguém] que nos seus próprios retrospectos. Esse algo-alguém 'calm the storms and give rest for her'. E isso era o que ela precisava. Enfim...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

anathema's effect on your mind

Não é fracasso aceitar que algumas coisas que insistem em não mudar, de fato não mudarão, é? Começo a pensar que não. É aceitação, apenas. 'Aceitar' muito rápido não é 'aceitar', aí seria desistência, acredita-se. Porém, procrastinar o tempo de não-aceitação e de insistência é não-sempre-bom. Na verdade, chega a ser sofrido. E acha-se que não se deve pensar então, que se é do time dos desistentes e vencidos. Se é conformada, eu acho. É não, está! Nem sempre foi. Aliás, nunca nem foi mesmo. Se isso é ser mais madura ou mais medrosa, também não se sabe. Um pouco de cada um, provavelmente. De alguma forma se sente caindo. E por mais quanto tempo até atingir o chão é outra coisa que também não se sabe. Sabe-se que a queda é longa, causa imensa aflição e por mais que saiba que vai doer, paga pra ir até o fim. Quem te 'compreendia' é agora quem te pressiona, sem escrúpulos e sem pensar se isso te machuca ou desespera. Você só quer que a noite chegue, você pegue sua imensa xícara velha e preferida, se entupa de café e ouça (ou leia) as palavras confortantes de toda a noite e que sendo ou não repetidas te fazem sorrir e esquecer a corrosão que o durante-o-dia causa no seu cérebro. E o seu 'meu-alguém' sabe bem como te fazer esse bem.
"Vem sentir mais daquilo que não deu pra ver, mas fez sorrir."

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

alguém

Tô sentido tudo tão-intenso, como eu gosto de sentir [ou como fui pré-destinada a sentir]. É algo como se sentir bem e não ver fim pra isso [não que eu queira um fim, longe de mim, mas normalmente as coisas boas têm um prazo curto de duração]. Dessa vez parece não ter prazo de validade. É achar ‘alguém’ com quem você se sente à vontade para ‘paranoiar’ sempre que as coisas apertarem no peito e saber que por mais que não seja entendido a fundo, esse ‘alguém’ vai ficar se martelando e se matando pra te entender e, é claro, pra te salvar do caos existencial. Na verdade, esse é o tipo de ‘alguém’ que sequer te deixaria chegar ao ponto de cair no caos existencial, justamente porque esse é o ‘alguém’ que te tirou desse maldito caos. Muitas vezes os dois juntos caem no clichê [o que é inevitável], mas a intensidade é tanta, e muita, e sempre, e sincera, que há profunda beleza até no que é clichê. Nessa relação até os clichês parecem novidade. É tudo novo. É você se ver refletida em algo que quando olha de relance pensa “nossa, meu oposto!”, mas que na verdade é mais parecido com você que sua própria imagem no espelho. É achar a paz quando o que mais dizia era “como preciso de paz!”, achar o que te palpite o coração quando pensava “que falta de emoção em tudo!”, é achar o que te completa quando só sentia “que vazio imenso, sem cor, sem fim!”. É passar a ter sonhos seqüenciais [com esse ‘alguém’ protagonizando, é claro], depois de tanto tempo de noites sem-sonho, de sono-escuro. É querer colorir seus desenhos mal feitos de madrugada no diário, depois de passar madrugadas começadas no breu e terminadas em branco, sem arte, sem inspiração e sem nada, onde a cor que predominava era o cinza do seu lápis de grafite 2.0. Agora a cor está em tudo. Na verdade não em tudo mesmo, mas o novo-sentimento faz querer procurar cor onde não há, ou até mesmo correr atrás da solução que fará a cor que sumiu em certas coisas, reaparecer. Seria em vão dizer que quer se jogar de cabeça nisso-tudo, porque na real já não entrou só de cabeça, mas de corpo inteiro. A coluna dói, os dedos e pulsos doem, a visão se cansa, mas tudo por mais alguns minutos na frente da tela do maldito computador, na sede de mais algumas palavras confortantes e que te roubam sorrisos que demoram pra cessar [isso quando se cessam, já que normalmente insistem em permanecer no seu rosto, ou voltarem nas horas mais inesperadas e impróprias por você ter se lembrado de algum-momento com ‘alguém’]. Telefone, celular, mensagens, computador, orkut, msn, e-mail... Tudo aquilo que era só o seu passatempo para as horas de nada-pra-fazer agora é como que uma necessidade, pra te manter o mais ‘próxima’ possível de ‘alguém’. É o que te sobra pra diminuir a distância. Ah, tem a distância. Essa felizmente só se resume a algo besta chamado ‘quilômetros’, porque de todo o resto possível vocês estão próximos, o mais próximo possível e imaginável. Tudo que você mais desejava era que ‘um-alguém’ entrasse na sua vida, mas agora ‘o-alguém’ entrou e você só quer mesmo é que ele não saia. A real é que não sei se encontrei ‘um-alguém’, ou ‘o-alguém’, ou ‘qualquer-que-seja-esse-alguém’, mas sei e sinto que é o ‘meu-alguém’.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

taking deeper

Depois de muito tempo quase-muda e vazia e com potencial pro nada pego uma caneca de leite quente, sento, coloco 'aquela' música no repeat e aqui me sento. Sento e sinto. E estar sentindo é bom mesmo que não seja algo bom de se sentir. Traz emoção, ao menos. Se boa ou ruim, não vem ao caso. A atenção é toda do sentir. Incrível como sentir faz pensar. É tanto pensamento, que se multiplicam naquela velocidade digna de se comparar à bokanovskização dos tempos de Ford. Só pensamento sem-sentido-algum, mas que tem um porquê de ser, lá no fundo, fundinho mesmo. Sei que todo esse sentir-pensar-sentir-pensar tem feito sorrir. Às vezes queria não ser tanto do time do sentir, mas é muito às vezes. Gosto mesmo é do estrago. E gosto dessa de sentir tudo tão-intenso. Prefiro assim.