domingo, 18 de julho de 2010

tenho pouco tempo.
dentro dele, tudo a dizer,
tudo que puder sair voando dos meus lábios,
feito fadas de asas,
feito a música produzida pelo cosmos.
é assim que quero que pareça,
que soe bonito assim,
que pulse, furta-cor, no ar.
tenho pouco tempo,
pouca coragem,
pouca fé.
o amor estilhaçou tudo,
estilhaçou meu tempo,
minha coragem,
minha fé.
mas eu preciso lhe dizer
e por isso fico sempre de cabeça baixa,
olho pro chão, cato os caquinhos
desse meu tempo,
dessa minha coragem,
dessa minha fé.
os cacos de tudo meu tudo em mim
tudo de dentro que o amor estilhaçou.
o amor estilhaçou meu corpo. e meu tempo é pouco.
o tempo de um cigarro:
tudo que a carnadura,
a pouca que me resta, ainda não estilhaçada,
pode ter.
"vou dizer, amor de mim, calma!,
que no tempo desse último cigarro vou dizendo."
choro, na primeira metade do meu curto tempo,
curto cigarro.
ainda sei chorar.
outra metade e perco meu chão,
depois meus pés,
depois os olhos, depois tudo.
o corpo. perco o corpo.
e meus porquês.
você não ficará.
e sabendo disso olho pro chão, então.
meus cacos todos lá,
espalhados novamente. mais estilhaçados.
num ato que, acredito, já ser automático,
volto a recolher caquinhos de vida pelo chão.
e assim, nisso de amar, a cada vez, recolho menos cacos.
uns se perdem, me fogem aos olhos.
morrer deve ser não se ter mais cacos pra recolher.