domingo, 27 de julho de 2008

Quero mudar de cidade, sair de casa, ter minha vida, ter alguém. Casinha simples, nada de sobrado, nem piscina, nem banheira. Quero sim um quintal grande, pra poder tomar chuva quando quiser ou banho de mangueira. Terei um cão, com um nome de algum personagem dos desenhos animados que eu via na infância. Cd's, discos, vitrola, estantes cheias. De livros inclusive, muitos, infinitos, que sei que não lerei sequer metade, mas vou ficar feliz de tê-los lá, de vê-los sempre e poder me sentir completa e cercada de palavras. Sofás antigos e, entretanto, confortáveis. Sempre amigos nos sofás, sempre. Sempre. Na geladeira cerveja e chá gelado com limão nunca faltarão. Uma taça bem grande e colorida de balas. Uma coleção de havaianas que vão estar sempre espalhadas pela casa, embaixo na cama, do sofá. Algum cômodo com uma parede verde e algum outro com uma roxa. Móveis de madeira. Um violão porque eu vou continuar com a promessa de um dia aprender tocar e também porque sempre terá alguém pra tocar. Até quando pensar que não quero gente em casa terá gente. Algumas pessoas terão a chave, virão quando quiserem e quando não quiserem também. Vai ter pipoca de panela, caramelada. Vou separar uns dias no carnaval pra chamar os chegados, afastar os móveis e dançar The Smiths na sala. Sandy & Junior também, porque não podemos esquecer de não crescer.
Quero minha vida de volta, tô vendo ela, bem longe. É muito ruim. Também não consigo saber se ela vai demorar pra voltar, mas me disseram que ela sempre volta, nunca demora. Ano que vem terá carnaval. Todo ano terá. Alguns melhores que o de 2008 virão, mais bebidas e menos amores efêmeros. Talvez já terei um ou uns amores, eles não precisam começar exatamente no carnaval. Ele deve estar lá na Ásia, Oceania... Um dia vem pra cá. É, e pode estar aqui também. Minha amiga dizia que sempre acreditou que só existisse um amor, mas que nunca havia se enganado tanto. Dizia que não era assim não, que há tantos amores. Um no sul, um na Suiça, um em São Paulo, um na Espanha, eles estão por aí. Eu dizia que tinha uns por aqui, uns tão perto dos outros. Tem épocas que um me dói mais que os outros, mas às vezes depois se torna o que menos dói. A mesma amiga me repetia "Todo amor só é bem grande se for triste, deixa doer". É, eu deixo. Até choro, sempre que me dá vontade não me poupo. Às vezes até me forço ao choro, leio coisa antiga, vejo foto. Vasculho vazios pra não perder quem já foi um dia, um mês, uma vida. A gente quer carregar todos até o último instante, tem medo de perder pelo meio do caminho até mesmo o que dói. Até mesmo e até mais o que dói. Essas são nossas certezas na vida, eu acho. A vida sempre tem razão, e a gente também. Eu sei lá.
Vou lá, buscar minha vida de volta. Isso é muito urgente agora. Exatamente agora. Exatamente urgente.

14 comentários:

hannah levy disse...

um dos sentimentos mais urgentes.

a gente só não pode se perder em alguma esquina, assim, sem querer. doendo a gente não se perde. encontra vazio e encontra a alma.


vou esperar o carnaval...

Unknown disse...
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Unknown disse...
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Ryane Siqueira disse...

' Porque eu sou um gato de rua, dos mais vagabundos, revirando os lixos, fuçando nos cantos, me enfiando nos piores becos em busca de um dono. Mas gatos não têm dono. Gatos têm servos, escravos, cegos e devotos, sempre prontos para mimá-los, ou não têm nada. AUT EGO AUT NIHIL. Então eu continuo, nenhum amor nesta lata, nem nesta outra, talvez na próxima esquina, na próxima casa, na próxima festa, talvez naquele bar, talvez naquela estrada. Depois do farol, depois do pedágio e já nem sei mais voltar para onde estava. Depois daquele morro, depois do rio e do mar, depois dos pampas, dando a volta ao mundo de volta ao mesmo lugar. O mesmo beco. A mesma cara, sobrancelha de gato levantada e costas ereetas, cuidando perfeitamente do meu nariz. SOBREVIVENDO. Mas sempre com saudade daquela casa, daquela cama quentinha, daqueles dias tão sagrados. Pobres e livres, não é assim que os gatos são? E temos sete vidas, não temos? Antônio, meu amor, você levou a primeira. O primeiro a me matar. MAS AMOR NÃO MORRE, ELE DISSE QUE AMOR VIRA RAIVA OU RIMA. EU QUE MORRI, MORRI DE AMOR. Morri de ingênua, o lençol branco cobrindo meu corpo ainda mais branco, nenhuma lágrima, tanta dor que ninguém sente mais nada. Morta pela primeira vez. Ainda bem que nós, gatos, temos sete vidas.

' Não há fim. Não há início. Há apenas a infinita paixão da vida. ''
(Federico Felinni)

Não, não foi perda de tempo digitar tudo isso, palavra por palavra. São palavras da Clarah Averbuck (No livro 'Vida de Gato'), escritora que me mudou e me mostrou que quero ser escritora e que a vida em São Paulo pode ser poesia demais, apesar de tudo. Faltava eu descobrir que sou um gato e que uma vida minha também já foi levada por um amor, o único que tive até hoje, ele nem me dói mais.

Essa coisa da casinha, da busca pelo confortável, da urgência da vida, às vezes não é questão de mudar de casa, é achar um lugar onde você se sinta em casa. Mudar pra São Paulo me desgastou que é um caralho, me bateu bem forte na cara, me fez ver o que é ficar sem grana e sem ter onde morar, mas tem um monte de amor por aí, me esperando. Eu também quero o amor e quero uma casinha legal, cheia de amigos e cervejas, mas percebi que isso demora muito mais e que primeiro quero a vida, o amor, os amigos e a cervejas, onde quer que for, porque aí vou me sentir em casa de qualquer maneira.



' esquecer de não crescer ' gosto disso, me faz lembrar que te disse que ' pensamentos felizes te levantam no ar ' do mestre pan, sim, porque ele também é mestre.

Aliás, foi o post mais coração que já li por aqui, deu pra sentir tudo, linha por linha.


Aut ego aut nihil = Ou eu ou nada

Borboleta disse...

Compartilho os seus sentimentos. Ah, se vai ter pipoca de panela, caramelada, pode me chamar, ok?
Beijinhos!

Anônimo disse...

"Quero minha vida de volta, tô vendo ela, bem longe."

eu sei. :S
o importante é que existem amores, muitos vários, e que sentir faz bem. "amor só é bem grande se for triste, deixa doer"
ela me disse isso também.
deixa dores, deixasentir, que faz bem, nos faz viver e ter alma.


(posso dançar smiths também?)

Unknown disse...

Tomara que sua casa seja em um lugar bem legal (logo, não em São Paulo), pra eu ter onde ir nos fins de semana, feriados prolongados, ou nas férias ^^

To gostando de ver, postando sempre hein? Que orgulho!

Quanto ás suas estantes, quero um banheiro assim. E vai ter que ter Tv. Não aguento mais perder tempo escovando os dentes, tomando banho e... bem, e mais, quando eu podia estar vendo um programa fantástico na Tv ou um filme bom.

MInha casa tb tá pronta na imaginação, só o que falta são detalhes.

Borboleta disse...

Vim agradecer pela visita. Veja só, você passou lá justo num dia em que eu estava escrevendo nada muito sério. Hoje já estou mais circunspecto. De qualquer forma, de pipocas carameladas, quem não gosta?
Beijinhos

Marcella Klimuk disse...

um amor em cada porto, já dizia adriana calcanhotto. não existe um só amor nessa vida tão diversa.

e eu quero mais carnavais com muito sandy e junior e smiths

Thiago Terenzi disse...

Juro que quero muito uma casa como a que você descreveu.

Havia tempo que não lia seus textos. Estava com saudade.

:)

Thiago Terenzi disse...

Me indicaram há algum tempo o caio fenando abreu. Não me lembro o porque de não ter lido. Mas não li nada dele, ainda.


Alguma indicação de o que ler?

Thiago Terenzi disse...

Li Caio Fernando Abreu. Adorei. Juro.

Estou garimpando na internet mais "coisas" dele. Acho que vou comprar algum livro...

Obrigado pela dica ;)

Vitor disse...

Eu quero a chave!!!

Miguel Beirigo disse...
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