terça-feira, 25 de março de 2008

visions come in a sick room bed

Diriam ao ver, sem sombra de dúvidas, "só uma janela!". Só? Só? COMO ASSIM SÓ?
Jamais! Diria eu, sim, que é uma janela só. Mas só uma janela, jamais! Mas ela não é só, aliás, não costumava ser. Está só, sabe-se lá desde quando pra cá. Era a janela das visões. As boas visões, as ruins, as confortantes, as juvenis, as dilacerantes, as vazias, as repletas. Parava nela em dias bons, lembro-me. Lá pelas tantas da madrugada, era frio ou calor, não sei, e olhava por olhar. Aquele azul-roxo do céu da manhã chegando. Um café requentado e com gosto de microondas. Era de uma melancolia sem definições, mas boa.
De tudo que me acelerava o peito já vi dessa janela. Dias de ânsia por alguém, arrumada, olhando por ela de tantos em tantos segundos e esperando com aquela típica agonia adolescente. E a cena do carro chegar, parar e alguém dali descer com a mesma ansiedade (prefiro acreditar assim) e me chamar. Era como céu tudo isso. Dela via também o carro ir-se, sabendo que logo, muito logo, muito logo mesmo, quase no instante seguinte, voltaria. No dia seguinte, muito provavelmente.
Sentava nela, com o telefone ao ouvido por 2, 3, 4, 5 horas com o mesmo alguém, naquele papo repetitivo que era sempre tão novo, tão necessário. E ficava olhando tudo acontecer, de lá da janela, ao som das palavras quaisquer que eu tanto precisava (e ainda preciso, mas agora sem tê-las) diariamente.
Em outras épocas recentes cronologicamente e distantes psicologicamente (com esforço inarrável o alcance da distância psicológica e sentimental, com certeza) via outra cena. Um carnaval talvez, gente querida, bebibas incensuradas, wiskey quem sabe, outro carro, outro alguém, outras horas no telefone, outras palavras necessárias, tudo outro e, mesmo assim, tudo tão-bom-quanto. E tudo dessa janela, sempre dela. De outra não poderia ser, nem deveria ser.
Hoje ela é como um quadro. Fica ali para que se olhe e lembre das cenas tão bem pintadas mas, há tanto tempo atrás. A janela está vazia de cenas, boas ou ruins. A janela está vazia. A janela está vazia. A JANELA ESTÁ VAZIA! É uma janela só agora. O que fazer? Pois eu agora, só sei fechá-la e ir dormir. Tchau, boa noite, vou dormir! [janela fechada]

5 comentários:

Marcella Klimuk disse...

nós não podemos simplesmente fechar a janela e ir dormir
são fases que se foram lih, e a janela tá aí pra te lembrar exatamente isso .

hannah levy disse...

como um quadro
' céu de bauninha ', tão famoso, tão doce e tão amargo

mas sem o amargo, o doce não é tão doce

thaís. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
thaís. disse...

Impossível não lembrar de você(s).

Consolo De Praia

Carlos Drummond de Andrade

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Anônimo disse...

Liii, depois divulga meu blogspot.


Vou levar a parada muito a sério.

Tem eu e um carinha de Minas divulgando a bagaça...

dps tem como add nos seus favs?