domingo, 23 de maio de 2010
Andei passeando por quase dois anos pelo meio-do-mato, piamente acreditando que a existência não poderia ser melhor, que amor a flor da pele não poderia ser se não bucólico. Aí vejo que a metrópole-loucura sempre me bateu mais na cara da forma que meu masoquismo, nenhum pouco racionalmente, sempre caçou. Fechei meus olhos por quase dois anos, teorizei tudo, relativizei tudo, na frustrada tentativa de me reconhecer nessas pessoas que se mostraram "presentes" nessa minha nova fase. Eu fui malditamente abrir os olhos e pude me ver no mais ermo que o planeta me deu até então, "num deserto de almas também desertas", mestre. Resolvi abrir os olhos na mais infinita não-existência de poços infinitos, e na ausência de alturas amedrontadoras. Foi nessa porcaria que me enxerguei. As pessoas aqui não gostam disso dos extremos, não conhecem isso. É muito alto pra elas, é muito fundo pra todas elas, elas não podem com isso. Não há do que salvá-las, elas não precisam de salvação, elas estão na superfície e não há na superfície o risco de se afogarem. Eu tô no fundo, mestre, no "poço do poço", como você já me contou. E esse limo daqui do fundo não nos permite subir. Você também sentia isso, mestre? Você subiu algum dia? Queria subir, não pra permanecer na superfície, mas deve haver algo lá em cima depois da superfície. "Deve haver alguma espécie de sentido ou o que virá depois". Você sempre soube muitas coisas, mestre. Quero subir e voar depois de tudo isso que a gente há de passar subindo o poço. A gente demora tanto pra subir, pra cair tão rapidamente. Voar é difícil. Mas não desisto, mestre. Juro. Por você e por Dolores, sei que os cinco segundos de voo são o catalisador de energia pra todas as subidas que faço desde lá do "poço do poço".
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