'Pelos caminhos vou, como um burrinho de São Fernando, um pouquinho a pé e um pouquinho andando.
Às vezes me reconheço nos demais. Me reconheço nos que ficarão, nos amigos abrigos, loucos lindos de justiça e bichos voadores de beleza e demais vadios e mal cuidados que andam por aí e que por aí continuarão, como continuarão as estrelas da noite e as ondas do mar. Então, quando me reconheço neles, eu sou ar aprendendo a saber-me continuando no vento.
Acho que foi Valejjo, César Valejjo, que disse que às vezes o vento muda o ar.
Quando eu já não estiver, o vento estará, continuará estando.'
Eduardo Galeano, O Livro Dos Abraços.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
A gente mergulhou num mar que é o mar da felicidade. É um oceano todinho. Quilômetros infinitos desse mar, desse oceano, nos ladeando, rodeando, afogando. Mergulhamos juntas. É uma loucura de querer bem. É concluir a não existência daquilo que chamam de limite. Tá tudo rosa, verde, amarelo, laranja... Tudo são cores. Tudo tá colorido. Arco-íris. O róque tá mais róque que nunca e a gente tem sambado absurdamente, nunca sambamos tanto quanto agora. E temos cantado muito mais, com toda a devoção que há em nós. Nosso baú tá aberto e as histórias e os fatos e os amores e os sentimentos e os quereres e os futuros borbulham, loucos querendo saltar pra fora, loucos na ânsia de serem compartilhados. Nada tem conseguido sufocar essa felicidade, só a felicidade que vem por cima, sobrepor essa. Isso sim sufoca. É felicidade sufocando felicidade. Uma sobre a outra, todas misturadas, todas juntas. A minha, a sua. A nossa. O turbilhão está na velocidade máxima, como nunca antes esteve. Mas a velocidade pode sempre aumentar, porque pra gente o limite não existe, não tem vez. Estamos sempre nos excedendo, em tudo. E estamos sempre explodindo. Tudo conosco só funciona se for intenso, é a doença que não nos larga. E nem sequer queremos que largue. Só funciona pra nós se for hipérbole. Nossa vida é um dicionário de hipérboles e superlativos.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
É questão das difíceis de dissertar, isso sobre de onde veio esse gostar de você. Foge de mim detalhes como o dia exato, o momento certo, a hora da epifania que me disse que era algo sobre você que latejava no meu peito. Nada disso, não sei mesmo. E sei mesmo é que isso é o que não importa. Sei algo, sei que foi gradativo. Um dia era só te ver diferente, algo como te achar mais bonito de repente. Sem mais nem menos mesmo. O outro dia era um quê de ciúme que me cutucava sem piedade. E agora é querer beijar. Agora é você na minha lista de quereres. É tudo aquilo de a gente no sofá e pra mim o ambiente ficar denso, carregado, e aquela vontade contida (em mim), cravada em cada canto e quina. Tudo impregnado com o mais real que há de desejos meus. E eu e o meu desejo e o meu querer são tudo que tenho. Tudo de mais verdade. Tudo que mais me transborda. Vou te olhando e vou assim escorrendo e me desmantelando. Esvaindo... Sumindo...
Eu tô indo. Não pra sempre, sei. Até quando não sei. Te levar comigo, é o que vou fazer. Não em matéria, mas escondido em cada fibra que em mim há. Na carne, na alma, na mente, mais que tudo no peito, coração. Você já sabe de tudo, eu não ligo, não me importo. A distância que terei de você será só daquele algo a que chamamos quilômetros, do mais tudo será proximidade. Fora tudo isso regurgitado, que já acho muito, me calo. Estou indo pra longe, o peito apertado vai junto, a saudade e tudo o mais. Vai você também. E fim, por enquanto.
Eu tô indo. Não pra sempre, sei. Até quando não sei. Te levar comigo, é o que vou fazer. Não em matéria, mas escondido em cada fibra que em mim há. Na carne, na alma, na mente, mais que tudo no peito, coração. Você já sabe de tudo, eu não ligo, não me importo. A distância que terei de você será só daquele algo a que chamamos quilômetros, do mais tudo será proximidade. Fora tudo isso regurgitado, que já acho muito, me calo. Estou indo pra longe, o peito apertado vai junto, a saudade e tudo o mais. Vai você também. E fim, por enquanto.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Sobre a ferida quase que incurável vinda da saudade que sua não-frequência vai me causar, digo que nem de longe é a primeira vez que eu penso nisso. Mas agora pensei com mais afinco. Diria até com mais desespero, por não só saber, mas sentir que a hora de ir tá bem próxima. Hoje está bom, mas tá doendo. A parede laranja, suas mil e uma camisas (bonitas), o peixe, os cd's em ordem alfabética (ordem a que eu jamais submeteria minhas coisas), os seus livros (que não pegarei mais emprestados semanalmente), seu cinzeiro laranja (que eu amo), seus olhos grandes entre esse mundaréu de cabelos desarrumados... Até os atos me fazem sentir que eu tô indo, você me dando seu último cigarro depois da meia-noite e deixando eu fumá-lo no seu quarto, na sua frente, sem sequer me pedir um trago. Vou te socar se você não sair desse computador agora e ir pra cozinha tomar um café comigo. Mas pode ficar aí mesmo assim, é bom, porque aí eu te olho e penso em mais algumas palavras bobas e bonitas pra registrar. Sei que lá pra onde eu vou não terá um esconderijo fora dos padrões espaço-tempo, que nem o nosso esconderijo. E se tiver também, pfff, de quê adianta?, você tá aqui. Mas vou te levar comigo, não me pergunte como, mas eu vou. Você acredita em mim, né? Eu sei que sim. Eu te amo.
Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.
C.F.A.
Já tá tudo quebrado na verdade. E tem mil pedaços de nós por aqui, por lá, em tudo, na cidade toda. Nunca cheguei a pensar em ver tantos de nós, tão multiplicados. Quis sempre que fôssemos um só. Mas a idéia de muitos, se não fosse tão assustadora e dolorida, seria bela e poética, ao menos.
C.F.A.
Já tá tudo quebrado na verdade. E tem mil pedaços de nós por aqui, por lá, em tudo, na cidade toda. Nunca cheguei a pensar em ver tantos de nós, tão multiplicados. Quis sempre que fôssemos um só. Mas a idéia de muitos, se não fosse tão assustadora e dolorida, seria bela e poética, ao menos.
domingo, 1 de fevereiro de 2009
Aquilo tudo me irritava, sabe?, me deixava intrigada e, mais que isso, constrangida. Eu não poderia me sentir de outra forma ao presenciar vocês dois, você e alguém que não eu. Será realmente tão difícil pros seus olhos e seu coração enxergarem que toda a minha simpatia e naturalidade eram falsificadas? Por que diabos você vê necessidade e acha essencial que sejamos amigos depois de tudo, depois da gente? Não acho que eu deva me dedicar a isso e nem vou me esforçar. Não consigo te olhar e enxergar algo que não nós dois num mesmo cômodo. Vejo em você o motivo dos meus dias bons, das minhas insônias, dos meus momentos de cólera e de exacerbação, das minhas tentativas em vão de tornar inteligível o amor que eu sentia (sinto, aliás). Não te quero dessa forma, isso não me preenche, entende? Não me agrada e, então, eu não quero. Ou você senta no meu sofá, me serve um vinho barato, coloca um bolero melancólico qualquer pra tocar e me beija e me ama, ou me deixa de vez, pra eu curtir minha dor, sofrer dela até a última gota e última palavra amarga que eu consiga escrever. Que eu possa chorar todo meu pranto e possa pensar todos os pensamentos de vontade de morrer. Essa relação morna e esse fingimento não me servem, joga no lixo isso tudo, não quero saber que você me considera muito por tudo que passamos juntos. À merda você e seu respeito por mim e pela nossa história. De nada me serve isso. À parte meu inconformismo e tudo isso por que me revolto, estou a te esperar voltar. E isso será sempre.
Pro meu próprio conforto resolvi adotar para todos os atos que tive contigo a teoria de que o que fiz foi por amor próprio, não por egoísmo. Era mais fácil pra mim me achar menos cruel. Amor próprio seria mais 'engolível'. Mas você entende que eu precisei disso, precisei ser assim? Que outra opção você me deu, se seu jeito de me amar com toda aquela inconstância fez de mim uma amante neurótica? Eu mais pensava onde você estaria?, com quem?, por quê? e fazendo o quê?, do que pensava em noites, garrafas, pernas e palavras. Eu quando estava com você me encontrava mais tentando sugar o que você estaria pensando do que me encontrava entre seus toques, braços e lençois. Tudo que vinha de você, pra mim, havia de ter um motivo, um porquê. E eu não aceitava que esse porquê podia ser o amor. Maldição. Agora eu consigo entender o seu amor, mas só agora, de longe. O seu amor queria ser perfeito comigo. Era silencioso quando precisava ser; e não era inconstante, era apenas sua tentativa de não me sufocar. E eu transbordei egoísmo, não quis te amar, quis te possuir, cega e perdida em ambições vazias e sem propósito. Agora eu sei que você me amou. Agora! Só agora.
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