Digo que não temo. Minto. Temo e sinto. Sinto aperto, entende? Aperto pelo vazio que sei, se fará sempre presente. Amores outros virão, sem dúvidas, sempre vem, tem que vir, faz parte do ciclo. Mas nada nunca será de tudo igual. Tudo sempre será de nada igual.
Burrice é crer que outro seria como o primeiro-verdadeiro, como aquele que te molda mais do que entenda e compreenda o porquê. Esse tal primeiro-verdadeiro é o que em tudo é dilacerante. É na saudade, no querer, no ter e no não ter, no ser, no tentar ser, no fingir ser e, nesse fingir, mostrar mais do seu real e intrínseco do que mostraria no seu suposto ser-você-mesmo. As esperas são dilacerantes, as despedidas, os reencontros, a intensidade, a eternidade em que se crê existir, o temer de que o fim exista também... Tudo, tudo. Tudo nos dilacera.
E fica na garganta, preso, em nó, o que se pensa que se fosse dito, mudaria algo.
Diria Bilac, "Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava, / O que a boca não diz, o que a mão não escreve?"
Diria C. F. Abreu, "Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio?"
Eu digo, "Volta, escuta, fica, não vá mais!"
2 comentários:
i never thought i'll be so lonesome
viu o que eu disse?
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