Havia sido um só o dia em que aconteceu tudo por completo, inteiro, intenso. Um só que estiveram ali presentes de alma, coração, pés, mãos, olhos, tudo. E foi num bar, à noite, numa sexta-feira. Ela saía com amigos, ele era amigo dos amigos, enfim, coisa comum essa, cotidiana. Foi disso, dessa situação mais clichê de todas que a vida inteira pareceu acontecer numa só noite, naquela noite. Na verdade não a vida inteira, mas o motivo de uma vida inteira certamente. Parecia no bar não haver mais cadeiras, nem copos, cervejas, cigarros, luzes e nem nada que não fosse deles. O bar era deles e pra eles (achavam). Depois tudo era o apartamento dele e o apartamento dele só parede branca, poucos móveis, posteres rasgados. Era só isso e eles. A geladeira era vazia. O quarto era cheio (deles).
Ele está hoje num lugar, ela noutro bem longe. Vezes ou outras, bem raras, deixam-se um ao outro um e-mail, sem palavras próprias, uma letra de música, uma citação, uma poesia, coisas assim. Isso não está como deveria ser, nem como ambos querem que seja. O tempo passa, fato, vão ficando velhos. O amor não vai mais ser reflexo do que antes fora, não. Hão de marcar outra noite, cigarros, vinhos, sentados-largados no chão da sala de um dos dois ao som de Mercedes Sosa. Aposto nisso. Apostem.