- Pára de chorar?!
- Não dá.
- Tenta.
- Não consigo, já tentei antes.
- Ta, então toma um café comigo?
- Ta.
- O meu é expresso e o seu?
- Também, mas sem açúcar.
- Já-já chega.
- Você não sente vontade de saber por que chorei?
- Não, você já parou, assim ta bom. Quem é você?
- Não sei, não sei na maior parte do tempo. Sei só que gosto daqui, gosto de clichês, gosto de café, gosto quando faz calor assim como hoje e chove chuva fininha, quando meu cabelo amanhece assim enroladinho, não pego ônibus e ando a pé, uso vestido antigo, combino coisas para o fim de semana, paro de ler um livro que era bom e começo outro melhor que vou parar também, quando passo o dia inteiro estudando, depois durmo de cansada na frente da tv vendo uma comédia romântica, quando conto isso pra alguém, ininterruptamente.
- Eu gosto de complexidade, quero ser diretor de cinema, vou escrever um roteiro sobre hoje, sobre você, sobre tudo que vem doravante, odeio quem lê resumos wikipedianos, gosto da cidade grande, odeio clichês e vou te ensinar a odiá-los, gosto de macarrão de domingo, vamos dançar rockabilly comigo um dia desses?, gosto de cabelos enroladinhos, gosto de você. Como você se chama?
- Não importa agora.
- Vai importar depois? Quero saber.
- Não vai importar nunca. Um dia te conto.
- Ta.
- Ta. Vamos?
- Pra onde?
- Você é quem sabe.
- Ta, vamos, então. Juntos.